quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

~41

Demorei um dia para digerir aquela história toda e decidir o que fazer. Fui ter ao apartamento dela, tinha de ser cauteloso, tinha de a convencer…

Ela é tão linda! Estou mesmo perdidamente apaixonado, e com o bebé então…

O apartamento era minúsculo. Ela conduziu-me para um sofá-cama. Reparei num quadro com uma montagem de pormenores de um corpo masculino e percebi que eram as fotos que ela me tinha tirado nos Açores. Ela deve ter reparado, porque corou de repente. Afinal, talvez não seja só atracção…

Ele voltou, desta vez reparou no quadro com as fotos, eu realmente sou muito burra, devia ter-me desfeito daquilo. Depois começou a contar-me uma história.

“Trabalhei com uma nadadora num projecto de educação física nas escolas e acabei por me apaixonar por ela. Foi a única vez que misturei trabalho com amor e acabei por me casar. Estávamos sempre juntos, éramos muito unidos, e apesar de não planearmos ter filhos, ela engravidou. Ela estava no topo da carreira, e não ficou nada contente com a ideia de ter um filho. Apesar de eu querer ter o bebé, ela optou por abortar e eu tentei respeitar a decisão dela. Mas a partir daí a nossa relação nunca mais foi a mesma. Ela começou a afastar-se de mim e eu não conseguia esquecer o que se tinha passado.

Aquele aborto acabou com o nosso casamento. Não há dia nenhum que passe que eu não me arrependa de não a ter conseguido convencer a ter o bebé.

Ok, ele acabou com todos os meus planos num minuto.
“Lamento o que te aconteceu, eu percebo que queiras ficar com o bebé, mas pensa se isso será o melhor para ele. Ele pode ter uma família aqui, com tudo o que precisa, dois pais que se amam e que vão com certeza amá-lo também. Achas que podes dar-lhe mais do que isso?”

“Acho que podemos fazer isso e muito mais.”

“Para os homens é tudo tão fácil, acham piada a ter um filho porque não têm de carregar a criança 9 meses no bucho, não têm de a parir, não têm de amamentar…”

“Mas a partir daí podemos ajudar…”

“Porra, eu detesto a ligeireza de pensamento dos homens!”

“Mas se detestas tanto, por que és tão agressiva e te comportas tantas vezes como um? Ainda por cima, os homens são tão «básicos», não é?”

Nádia 1, João 2 - ele marca 2 pontos com uma só boca e eu devia aprender a controlar melhor o que digo. Até lhe viro as costas e deixo escapar um “desculpa” baixinho.

“Eu gostava que me desses um pouco mais de crédito, eu preocupo-me contigo e com o bebé, eu quero-vos aos dois, deixa-me…”

Ele é mesmo perito em abordagens por trás. Vem de mansinho, falar-me ao ouvido, pousa uma mão no meu ombro, abraça-me, envolve-me a barriga nos braços e eu não aguento mais e desato a chorar como nunca tinha feito antes. Não consigo parar de soluçar, até me passo!

Ela começou a chorar desalmadamente e eu virei-a para mim, ela enterrou a cabeça no meu peito e eu senti que finalmente ela começava a render-se. Aos poucos, foi-se acalmando.

“E se ele for uma má pessoa? E se não gostar de mim? E se eu não gostar dele? Eu não estou preparada para isto!”

“Ninguém está, faz-se o melhor que se pode. O que é preciso é amar, incondicionalmente.”

Não sei…

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