sexta-feira, 12 de abril de 2013

Swingin' (in the rain) parte 20

continuação daqui | início

Acabámos por chegar muito perto da meia noite. Foi o tempo de descer à pista, pegar num copo e numas passas e já soava a contagem decrescente. Este ritual parece-nos mais ridículo a cada ano que passa. O novo ano não ia ser fácil, mas há sempre uma esperança renovada a cada passagem de ano, como se fosse uma oportunidade para começar de novo. E começar o ano entre sorrisos, beijos e abraços, com as pessoas de quem se gosta e se quer estar, é sempre um bom começo. O espaço estava bastante composto, cruzámo-nos com algumas caras habituais, os nossos amigos embaixadores chegaram pouco depois da meia-noite, fizemos as apresentações e a Yin advertiu logo o Guardião para que se portasse bem, caso contrário, levaria. E digamos que ele levou umas belas palmadas no rabo que deixaram a Yin com a mão a arder e a dizer que para a próxima, trará mesmo o pingalim. Ele diz que prefere dar a levar. Mas levou. E também deu, que ela não lhe escapou.
Depois viémos para cima com o Tal Casal e por lá ficámos, numa de observadores. Eles conheciam imensa gente, nem sempre as caras, mas pelos nicks dos sites.

Ouviam-se gritos, imensos gritos e gemidos, alguns a soar mais genuínos que outros, houve pessoal que fez questão de passar a meia noite a foder. E o resto da noite também. E era vê-los, aos machos, a correr todos nus, em bicos de pés ou de meias, a atacar o buffet e voltar para o quarto. Divertimo-nos a observar e identificar as várias espécies da fauna swinger. Reparámos num grupo de três “meninas” que sobressaía por serem três e por terem um aspeto pouco feminino, o que, na opinião da Yin, contribuiu positivamente para a biodiversidade. Nós perguntámos se podíamos levar um amigo e foi-nos dito que seria uma noite apenas para casais. Mas depois vimos que um dos casais predadores profissionais levou um amigo, ao qual o elemento feminino chamava carinhosamente de “meu sub”. Eles explicaram que ele fazia parte de um casal swinger que terminou e não queriam que ele passasse a noite sozinho e então trouxeram-no. A verdade é que o vimos por diversas ocasiões sozinho e bêbado no final da noite. 
Por esta altura, o espaço estava ao rubro, era difícil conversar no lounge apesar da música estar baixa, tal era a chinfrineira produzida pela multidão. A Yin reparou numa menina de um casal que a falta de espaço tinha empurrado para a nossa mesa. Era novinha, lembrava-lhe a Adele. Pensou umas quantas vezes meter conversa, mas foi o elemento masculino do Tal Casal que a abordou. Falaram-nos das suas experiências frustradas, de toda a gente lhes achar piada mas depois na hora da verdade se cortarem ou acontecerem coisas estranhas. Que já andavam “nisto” há mais de um ano e nada. Quando se tem vinte e poucos anos, andar “nisto” há um ano sem faturar, é capaz de ser realmente muito tempo, coisa para frustrar bastante. O rapaz estava ao lado dela, mas não brilhava como ela. A Yin achou-lhe piada, e o Yang também. Na pista, a “Adele” subiu para cima da coluna de som e só faltava gritar “fodam-me!” Até pode ter gritado, mas com o barulho das luzes, não se ouvia. O Yang virou-se para Yin e disse-lhe, em tom provocatório “vai dançar com ela, mete-te com ela”. Tentou picar a miúda também, mas ambas fizeram ouvidos mocos. A Yin gosta do jogo da sedução e sabe que é tudo uma questão de instinto, ler os sinais, agir no tempo certo. Não achou que fosse o tempo certo, e o tempo veio dizer-lhe que nem sequer era a pessoa certa. A verdade é que o casalinho jovem desapareceu e também deixámos de ver o casal predador. O Tal casal dizia que ela se iria arrepender no dia seguinte, que eles iam tratá-los como se fossem objectos. Não sabemos porque eles nunca mais disseram nada, apesar de tentarmos meter-nos com eles através do site. Falta um manual de boas práticas para estas coisas, há falta de melhor, resta o bom senso. Esperamos sinceramente que estejam felizes. Ou melhor, não esperamos nada. Há que saber gerir muito bem as expetativas e na maior parte das vezes, o melhor é não as ter e assim podermos, em raras ocasiões inspiradas, deixarmo-nos surpreender.
O elemento feminino do Tal Casal, ao contrário do que tinha previsto, parecia estar genuinamente divertida e já não era nada cedo. Encontraram um casal em que um dos elementos era conhecido de outras andanças. Nunca nos aconteceu encontrar alguém assim conhecido, por vezes divertimo-nos a imaginar como seria encontrar um familiar, um vizinho ou um cliente. Será que isso iria mudar radicalmente a forma como olharíamos essa pessoa? Imagina-se o sorrizinho cúmplice da próxima vez que nos víssemos noutro contexto... ou o constrangimento. Normalmente nunca passa pela cabeça de alguém que as pessoas que conhecemos podem ser swingers. Até parece que estou a falar de uma doença contagiosa, mas a verdade é que este pessoal não anda por aí a divulgar a sua vida sexual (ou lifestyle, como lhe chamam os americanos). É uma sociedade consideravelmente secreta.
Foi muito interessante falarmos das nossas experiências e do que representa o sexo e os afetos nas nossas vidas. Tínhamos levado um bolo feito com imenso carinho, mas acabámos por o trazer inteirinho e comer em casa, acompanhado com chá e mais conversa. Soube mesmo bem, no final da noite.

Voltámos a encontrar-nos mais uma vez na tal esplanada aquecida, com mais conversa descontraída até onde as horas e os compromissos do dia seguinte nos deixaram e um convite para visitar a ilha. A ideia seduz-nos bastante, só falta encontrar a altura certa.

continua aqui

Sem comentários: