quinta-feira, 17 de agosto de 2017

o Prazer de SUPAR*

*andar de Stand Up Paddle


A vontade de experimentar foi imediata, assim que vi e entendi o conceito. A oportunidade surgiu há uns anos, numa plácida baía da costa alentejana. No princípio, as pernas tremem, apesar do mar parecer plano, sempre se agita um pouco, não é fácil manter o equilíbrio e a queda é quase certa. O medo de cair e fazer figuras ridículas está lá, mas não impede o gozo. E lutar contra o desequilíbrio e vencer é um gozo vitorioso. A sensação de estar em pé a deslizar sobre as águas, apenas com uma prancha e um remo (que se chama pagaia) a manobrar, a controlar todo o processo tem qualquer coisa de… bíblico. É mesmo poderoso!
A partir daí, fiquei viciada. Experimentei lagoas, rios e albufeiras, sítios onde conseguia alugar pranchas.


O vento é inimigo do SUP, transforma-nos em vela. E se até pode ser muito bom navegar à popa (é só preciso ficar em pé, podemos abrir os braços e apreciar a paisagem) à bolina (ziguezaguear contra o vento) não é nada fácil, mas com alguma tenacidade, é possível, nem que seja de joelhos ou esquecendo a pagaia e dando aos braços como fazem os surfistas.


Uma vez quis aventurar-me na maré cheia revolta. Vi algumas pessoas a fazê-lo, e achei que depois da rebentação não teria dificuldades. Pois a primeira dificuldade foi mesmo passar a rebentação. Levei com a prancha em cima, engoli alguma água, mas depois de esperar que o sete passasse, lá consegui. A segunda dificuldade foi conseguir pôr-me de pé. O mar, que visto de terra até parecia calminho, sentido na pele era uma máquina de lavar roupa a centrifugar. Ok, talvez esteja a exagerar um pouco, mas aquilo de calmo não tinha nada, tentava pôr-me de pé, vinha uma onda e lá caía eu, punha-me em cima da prancha para de novo cair com a próxima onda… Resultado, só aguentei meia hora e desse tempo, passei muito pouco em pé e fiquei com a boca a saber a sal de tanta água que engoli. Quando decidi sair, apanhei uma onda de joelhos! É uma sensação fantástica, uma energia tremenda, mágica, a elevar-nos e a levar-nos para terra muito rápido… claro que no final enrolei-me toda na onda e na areia, andei às voltas até não saber mais qual era o lado de cima e voltar a descobrir de novo. E via os outros a entrar e a sair com imensa fluidez e elegância, senti-me mesmo aselha… no dia seguinte doíam-me os músculos todos como se tivesse levado uma tareia. É que levei mesmo porrada do mar e passei a respeitar mais os surfistas.


Comecei a ir com mais calma, nas ondinhas pequeninas, aquelas onde se aprende a fazer surf. Comecei a entender o ritmo do mar, a respeitá-lo. Até entender a sintonia da minha respiração com a remada e a ondulação. Quando expiro, puxo a pagaia; quando inspiro trago-a para fora da água e repito o ciclo tendo em atenção as ondas, contrabalaçando os altos e baixos. Trabalho o corpo todo e tenho plena consciência disso. Não é difícil, é parecido com andar a pé ou de bicicleta, se não pensarmos, fazêmo-lo instintivamente. A grande vantagem é que se cairmos, tomamos banho, não nos esbardalhamos no chão duro. Nunca me magoei a sério, o mais grave que me aconteceu foram umas nódoas negras, uma unha partida e um brinco (de estimação) perdido para o mar. E depois de algumas tentativas falhadas, começamos a apanhar ondinhas, a deslizar e a vir com elas para a costa. Uma delícia!


Certa altura, pelo meu aniversário, ofereci-me uma aula de SUP yoga. Já andava para experimentar há imenso tempo, ninguém quis vir comigo por isso tive uma prática muito proveitosa e tranquila na foz do rio, com um professor só para mim. E foi muito bom! Nunca pensei que conseguisse fazer tantas posturas em cima de uma prancha! Alguns amigos acompanharam-me e ficaram em terra na esperança de me ver cair, mas eu aguentei-me. Fiquei mesmo surpreendida por não ter caído, estive quase quando experimentei as posturas do Guerreiro, que em terra firme até nem são muito difíceis, mas que causam bastante desequilíbrio em cima de uma prancha. Ou posturas invertidas como esta. A partir daí, comprei uma âncora, e sempre que pude, usei nas pranchas alugadas. Sabe mesmo bem, depois de remar, sentir o prana, a energia vital a pulsar, ao pôr-do-sol, praticar yoga e relaxar! (Um conselho: usar repelente de insetos para yogar no lusco-fusco)


Fiz as contas e decidi comprar uma prancha insuflável. Muito fácil de transportar, não tão fácil de encher (é preciso uma pressão tremenda, o que acaba por se tornar num bom aquecimento, dar à bomba manual) e também requer alguma logística para voltar a arrumar e lavar, mas como se costuma dizer, “quem corre por gosto, não cansa”.
A verdade é que não me arrependo nada, só tenho pena de não ter comprado há mais tempo. A grande vantagem é poder experimentar sítios onde não existem pranchas para alugar e claro, durante o tempo e o horário que me apetecer.


Tenho conseguido contagiar amigos e familiares com este desporto. Desenvolvi uma técnica parecida com a aprendizagem de bicicleta, que consiste em colocar uma mão no selim e ir a correr atrás, eu vou de boleia na parte posterior da prancha, ajudando a estabilizá-la. É muito divertido, algumas pessoas têm um talento natural para a coisa, outras nem por isso. Encontro particular piada naqueles que acham que é muito fácil e não precisam de indicações. São invariavelmente os primeiros a cair e a fazer aquelas figuras tristes que dão tanta vontade de rir e fazem o meu dia muito mais alegre!... No outro dia estive a ensinar o meu pai. E a pensar que há trinta anos estava ele a ensinar-me a andar de bicicleta…


Guardo muito bons momentos e sei que vou criar muitos mais. Desfrutar de uma vista privilegiada de um grupo de golfinhos… talvez numa próxima consiga nadar com eles! Subir rios tranquilos, sem gente, sem roupa… sentir a água a fluir debaixo dos pés, em perfeita comunhão com a natureza… apanhar uma onda em pé, aproveitar toda aquela energia acumulada na água, sentir a adrenalina a fazer o seu trabalhinho espalhando pelo corpo e mente uma torrente de euforia e bem-estar… Na serenidade das águas calmas ou no ímpeto das ondas, é verdadeiramente entusiasmante. Só me falta experimentar sexo na prancha. Um orgasmo em cima da água deve ser estrondoso!


Que mais dizer para te converter… EXPERIMENTA!