terça-feira, 8 de agosto de 2017

Arqueologia do Desejo

Isto sou eu a tentar organizar os meus pensamentos num formato partilhável. Porque tal como o sexo, em boa companhia costuma ser melhor.


Não estava à espera, assim, tão de repente. Estava sossegada, no meu canto, sem procurar nada por não esperar nada de novo. Estava sem grande entusiasmo, e esta coisa da novidade é importante, porque é uma espécie de tempero da vida. A rotina, tal como a comida, só tem sabor de for bem temperada. E quanto mais se experimenta e vive, mais difícil descobrir coisas novas, inovar.


Mesmo quando nos encontrámos, não sabia o que iria acontecer, não pensei que fosse tão rápido. Senti-me desde logo inquieta, como alguém que dorme tranquilamente e cujo sono é perturbado. A minha libido estava adormecida, decidida a acordar apenas para viver algo que valesse a pena. E após a resmunguice inicial com que fico quando me acordam, deixei-me levar para um sítio bastante aprazível e por lá tenho estado desde então.


O fim-de-semana passado deu-me oportunidade de acalmar um pouco esta minha inquietude, refletir sobre os recentes acontecimentos e colecionar novas experiências. De manhã bem cedo, pela fresquinha, soube-me bem caminhar e desfrutar da calma paisagem alentejana, meditar à beira-mar, sentir a erva e o lodo e a areia debaixo dos pés descalços, arranhar-me toda a colher amoras cobertas de orvalho. Caminhar ajuda-me a pensar, meditar acalma-me e os arranhões são apenas uma prova de que estou viva e sinto e saro. E mesmo o ardor dos arranhões na água salgada me soube bem. A verdade é que isto me despertou os sentidos de uma forma como não acontecia há bastante tempo. A comida sabe melhor, as cores são mais vibrantes, sabe bem respirar fundo e encher os pulmões de ar, ouvir música e cantarolar e dançar... Sentir a pele, sentir a água morna a escorrer pelo corpo num simples duche (que coisa fantástica é o duche!) apreciar tudo, experimentar tudo como se fosse a primeira vez. Porque muitas vezes face à mesma situação, uma mudança de perspetiva torna tudo completamente diferente. Isto ajuda-me a prestar atenção às coisas simples que são essenciais e me fazem perceber como sou uma sortuda privilegiada do caneco.


Sei que tenho ainda muito para explorar, muito para aprender. Quero escavar bem fundo, ir descobrindo o que está enterrado à espera de ser encontrado e persistir até encontrar o início, a origem do Desejo. Quero encontrar novas formas de o trazer e manter à superfície. Quero compreender melhor a Dor, para melhor compreender o Prazer.
Não procuro apenas um estímulo corporal, mas sobretudo cerebral, sem dúvida o principal órgão do Prazer, é lá que começa o Desejo, é lá que devem estar as respostas. E eu tenho tantas perguntas...


Gostava de fazer esta viagem convosco. Querem embarcar comigo?
Yin

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